Mesa para um

Truques e soluções para cozinhar e comer sozinho sem apelar para a pizza ou para o restaurante


Um dos primeiros sentimentos que acometem os solteiros diante dos inevitáveis horários de refeição, além da fome, é a preguiça. Olhar para a cozinha e imaginar-se preparando uma refeição solitária produz em muita gente um enorme desânimo. Preguiça de cozinhar apenas para si mesmo. Preguiça de comer sozinho. E preguiça de arrumar tudo depois, sem ajuda...
Dá para entender. Primeiro porque comer é um ato que se engrandece quando ocorre socialmente - seja fora ou dentro de casa, é sempre mais divertido e completo quando se tem companhia. Razão pela qual os que moram sozinhos preferem muitas vezes ir a lugares públicos onde, mesmo sem companhia, estarão rodeados de outras pessoas. Em segundo lugar, cozinhar apenas para si mesmo muitas vezes parece um ato trabalhoso e pouco prático - muito esforço para pouco resultado.
Acaba que muitas pessoas optam por duas soluções extremadas e terríveis: comer diariamente fora, em qualquer lugar, em geral lugares rápidos e medíocres, apenas para resolver o problema da fome; ou comer em casa com igual desatenção, apenas descongelando um prato industrial, pedindo uma pizza que virá com a mussarela já em rigidez cadavérica ou, no melhor estilo de engorda americano, abocanhando uns salgadinhos gordurosos em frente à TV.
Uma pena. Porque nada disso é necessário. Claro, quem não possui nenhuma noção de cozinha - e nem quer ter - terá que se virar mesmo com comidas prontas. Mas um mínimo de vontade de se entreter com a culinária, que afinal produz prazer sensorial em absolutamente 100% das pessoas, pode fazer das refeições do solteiro uma sucessão de momentos divertidos em sua vida.
A primeira dica valiosa - que deve valer, aliás, para muita coisa na vida - é fugir da rotina. Encher-se de possibilidades. Numa família grande, a pressão da vida prática leva à imposição de uma rotina maior. O cardápio sempre parecido a cada dia da semana, um suprimento básico de pratos para crianças, tudo organizado a partir de enormes compras mensais no supermercado.
Quem mora sozinho pode mais facilmente brincar com a fantasia na hora de comer. Pode até tentar reproduzir o hábito francês de trocar a compra mensal e programada de todos os ingredientes do mês pelo hábito de passar diariamente, na volta do trabalho, pelas suas lojas de comida ou supermercados prediletos.
É como eu faço quase que diariamente, em minha condição de solteiro, como aprendi na França, anos atrás. Em seu trajeto entre a estação do metrô e sua casa, no final do dia, os parisienses (solteiros ou não) costumam passar pela padaria e comprar um pão. Passam pelo açougue e compram bifes (não para a semana: somente a quantidade do jantar). Pela quitanda para comprar dois tomates. E pela queijaria e pela loja de frios, para levar fatias do que lhes apetecer para aquela noite. Se precisar, uma garrafa de vinho, um filé de peixe...
Dessa maneira, o que se vai comer a cada dia depende do que mais atrai o comprador. É verdade que, nos bairros das cidades brasileiras, infelizmente não existe tamanha profusão de pequenas "lojas gourmets" pelas ruas. Mas, ainda que seja apenas num açougue ou supermercado, o hábito de se surpreender a cada dia com cada refeição pode tornar a vida - e o paladar - bem mais interessante.
Outro problema a ser resolvido: o tempo. Nas casas de família de classe média no Brasil, é mais comum haver uma empregada que cozinhe diariamente, ou ao menos em vários dias da semana. Quem mora sozinho normalmente não precisa ter ou não pode sustentar uma diarista para cuidar da cozinha. E, se trabalha fora, nem sempre tem tempo de gastar muitas horas preparando sua refeição.
Mas será necessário ficar enfurnado na cozinha durante tanto tempo? Tudo bem, um almoço ou jantar especial, para vários amigos, a ser degustado durante horas num fim de semana, pode requerer todo esse tempo de preparo. Mas, para quem vive e come só, existem certos pratos práticos e rápidos, mas muito saborosos.
Comprar um belo bife ou um filé de peixe, umas folhas de salada ou um ingrediente para cobrir uma massa ou reforçar um risoto italiano (algum legume, ou lulas já cortadas, ou lingüiça, para dar alguns exemplos), são a garantia de uma solução rápida para um jantar solitário (ou quem sabe na companhia de uma visita, mesmo que convidada de última hora).
A salada só requer um molho, que pode ser preparado na própria mesa no momento de se servir. O bife ou peixe pode ser feito numa grelha de ferro ou de revestimento antiaderente (artefato indispensável para quem quer fazer refeições rápidas). E tudo isso não toma mais que dez minutos. Uma massa fica pronta em menos de 20 minutos, imaginando um molho simples (tomates italianos em lata, refogados com cebola e alho, ou um molho de alho e azeite). Um risoto pode demorar um pouco mais - mas, dependendo da habilidade do cozinheiro, não exige mais que 30 minutos.
O cozinheiro mais prendado terá também colocado uma fruta (pêssego, figo) no forno, com açúcar, manteiga e suco de laranja, para que tenha uma sobremesa pronta já no fim do jantar. Outro, se for mais afoito, terá um bom sorvete na geladeira, uma calda de chocolate e pronto, sobremesa garantida.
Aliás, eu aprendi com o tempo que geladeira e freezer são aliados valiosos do cozinheiro solitário, assim como um bom microondas - apetrechos dos quais será necessário perder o preconceito. Assumindo que num belo dia chega-se tarde em casa, já sem tempo de passar no mercado, ou que em outro nem sequer se saiu de casa ainda e já está na hora do almoço, é sempre bom ter em casa algumas possibilidades.

(Fonte: http://vidasimples.abril.com.br )

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