segunda-feira, 11 de abril de 2011

Você já sorriu hoje?

Como o cultivo do bom humor pode nos ajudar na loucura do dia a dia


Como anda o seu humor ultimamente? Está mais para Pollyanna ou Pato Donald? Claro que ver a vida sempre como se tudo estivesse às mil maravilhas é algo extremo, pois somos humanos e temos reações normais diante das adversidades. No entanto, o outro extremo, que é ver a vida como a hiena de um antigo desenho animado (ó vida, ó céus, ó azar...), não é nada bom, pois segundo a terapeuta ayurvédica Janaína Chagas, do Rio de Janeiro, “o princípio do bom humor no Ayurveda é a alegria da vida, e esta alegria se torna presente quando estamos em paz com nosso corpo, nossa mente e nosso espírito”. 

Na visão do Ayurveda, medicina milenar indiana, as pessoas são classificadas em três doshas diferentes: kapha, pitta e vata. De acordo com o dosha, reagimos de forma diferente ao mesmo problema que se apresenta. A dra. Maria Stela de Simone, clínica-geral e especialista em medicina indiana, diretora do Centro de Medicina Indiana, do Rio de Janeiro, diz que as pessoas com o kapha predominante tendem a ser mais bem-humoradas e satisfeitas. No entanto, em excesso, isso pode prejudicar a pessoa, pois ela pode se tornar acomodada e deixar de buscar coisas novas para sua vida. O vata é o extremo oposto, com tendência à constante insatisfação e mau humor, como se estivesse de mal com a vida. O lado produtivo do vata é a grande capacidade de se adaptar às mudanças. Já os indivíduos pitta sentem prazer pela vida, são bem-humorados, mas reagem negativamente quando as coisas não saem como planejaram. Seu mau humor pode se expressar de forma raivosa.

Seja qual for o seu dosha predominante, é importante cultivar um estado de leveza diante da vida. Segundo a médica Maria Stela, as pesquisas comprovam que pacientes bem-humorados se recuperam mais rápido, pois possuem o sistema imunológico fortalecido. Ela explica ainda sobre aquela pressão no peito que sentimos quando estamos tristes: “Existe uma glândula localizada entre o esterno e o coração chamada timo. Quando estamos felizes e bem-humorados, o timo é aumentado. Em contrapartida, quando estamos de mau humor, essa glândula se contrai, fazendo uma compressão no peito”. Daí aquela sensação ruim de “aperto no peito” quando a vida não anda às mil maravilhas.

O professor de Yoga Edinho Serafim, do Rio de Janeiro, é adepto do bom humor em qualquer situação e diz: “Nas minhas aulas, o humor é tão importante quanto asanas e pranayamas. Despertar a alegria nos alunos ajuda a relaxar as tensões do dia a dia. Encarar os desafios da vida com bom humor é fundamental para manter o equilíbrio emocional. Quando levamos as coisas muito a sério sentimos o peso das responsabilidades nos ombros e nas costas”.

O fato é que mesmo em situações adversas, o bom humor parece ser necessário para a aquisição de um estado de paz interior. Segundo a dra. Maria Mazzarello Cotta Ribeiro, em um trabalho apresentado na mesa-redonda da XXV Jornada do Fórum de Psicanálise do Círculo Psicanalítico, é pelo humor que conseguimos escapar da realidade incômoda, evitando o sofrimento sem ultrapassar os limites da saúde mental. Pelo humor, segundo ela, nos afastamos da dor sem negá-la, reconhecendo a nossa fragilidade humana.

A dra. Maria diz: “É comum surgirem piadas de humor negro após grandes catástrofes. Isso parece, a princípio, um desrespeito à dor, à perda, ao sofrimento, mas é justamente o contrário. É uma forma de reverenciar a morte e reconhecer nosso limite diante dela, mas, mesmo assim, podemos driblar o sofrimento”.

Para o professor Edinho, o bom humor aproxima as pessoas e cria um ambiente aconchegante. Ele narra um episódio engraçado: “Um dia, durante a vocalização do mantra Om na aula, uma aluna de primeira viagem não se conteve e começou a rir. Sua risada contagiou toda a turma. O que percebi foi que o Om teve o poder de alegrar e descontrair”.

O humor também tem uma estreita ligação com o intestino. Muitos o consideram como nosso segundo cérebro. A terapeuta ayurvédica Janaína explica: “O intestino é formado do mesmo tecido embrionário do Sistema Nervoso Central, existindo uma conexão entérica entre os dois. A massa neuronal dos intestinos é a segunda massa neural depois do SNC. O intestino tem memória própria, por isso a importância de mantermos este órgão com o vata sempre em equilíbrio. Com o ar interno dos intestinos em movimento, garantimos boa parte da nossa alegria pela vida”.

Problemas intestinais como a constipação podem deixar a pessoa mal-humorada. Dessa condição surge o adjetivo que conhecemos para designar o estado de alguém assim: enfezado. Janaína esclarece: “Quando estamos com os intestinos intoxicados e constipados, o ar interno não flui, alterando os humores corporais. Quem tem esse mau humor crônico precisa iniciar um tratamento ayurvédico com um dos panchakarmas, o Basti, que trabalha a limpeza intestinal, pois é no intestino que se produz 95% da serotonina, uma das principais enzimas responsáveis pelo nosso bom humor”.

Devemos lembrar que um constante mau humor pode estar ligado a um início de depressão. Se você está sempre irritado, implicante com tudo e com todos, é melhor consultar um médico e relatar seu caso. Vale lembrar que o mau humor também causa outros problemas, de acordo com o dosha predominante de cada indivíduo. Segundo a dra. Maria Stela e a terapeuta Janaína, os pittas podem vir a ter ataques e até mesmo um AVC, enquanto os kaphas podem desenvolver câncer, por exemplo. Já os vatas tendem a buscar drogas para compensar o mau humor.

A dra. Maria Stela lembra que, segundo Yogananda, “a felicidade é uma questão de escolha”. Ela diz que nós podemos optar por ser felizes e acrescenta: “O dia de hoje é o melhor que temos. A vida é muito transitória”. Com esse pensamento sempre presente, fica mais fácil nos ater ao bom humor. Para ajudar nesse processo, algumas pessoas estão buscando alternativas, como o Yoga do Riso, que tem como um de seus expoentes o professor de Yoga Maurício Salém. Ele é fã do alto-astral como mecanismo de combate aos problemas diários e diz: “O riso e a gargalhada são poderosos, pois desligam o mecanismo de alerta e de luta e fuga do corpo, reduzindo o mecanismo de alerta/estresse. A partir desse ponto, por meio da meditação, surge o momento de atenção em si mesmo e no agora”.

A dra. Maria Stela lembra que não podemos mudar o nosso exterior. Os problemas externos vão sempre surgir, então cabe a nós mudar a forma como lidamos com eles. Ela sugere que façamos uso de recursos que ativem o bom humor, tais como meditação, práticas físicas energéticas (Hatha Yoga, tai chi chuan), visualizações, aromaterapia, massoterapia ayurvédica, entre outros. Maurício acrescenta que “o riso e a gargalhada por períodos prolongados ajudam a nos desligar temporariamente desses pensamentos para podermos nos enxergar em plenitude”.

A dra. Maria Stela insiste em que tenhamos pensamentos positivos, pois a parte emocional deve ser prioridade em nossas vidas. Dessa forma, ela diz, evitamos o desenvolvimento de doenças psicossomáticas, que podem ir de gastrite a câncer.

Para evitar o mau humor, o professor Edinho dá algumas dicas:
- Ria de você mesmo.
- Ria para você em frente ao espelho.
- Exercite a gargalhada. O corpo vai agradecer. Todos os sistemas e aparelhos corporais são ativados com uma boa gargalhada.
- Não pense no pior. Pense que poderia ter sido pior.
- Olhe para si e perceba quão pequenos nós somos diante de toda a grandeza do Universo.

Por fim, Janaína nos lembra que “Somos bem-humorados por natureza. Vejam pelas crianças que naturalmente são alegres e felizes. Esta é a memória de que precisamos para retornar ao nosso estado sátvico de vida”. Então, nada de ficar como a hiena Hardy, reclamando do destino. Lembre-se de que ser feliz é uma questão de opção. Não perca tempo e cultive a felicidade e o bom humor a partir de agora.

Fonte: (http://yogajournal.terra.com.br)