Você já sorriu hoje?
Como o cultivo do bom humor pode nos ajudar na loucura do dia a dia
Como  anda o seu humor ultimamente? Está mais para Pollyanna ou Pato Donald?  Claro que ver a vida sempre como se tudo estivesse às mil maravilhas é  algo extremo, pois somos humanos e temos reações normais diante das  adversidades. No entanto, o outro extremo, que é ver a vida como a hiena  de um antigo desenho animado (ó vida, ó céus, ó azar...), não é nada  bom, pois segundo a terapeuta ayurvédica Janaína Chagas, do Rio de  Janeiro, “o princípio do bom humor no Ayurveda é a alegria da vida, e  esta alegria se torna presente quando estamos em paz com nosso corpo,  nossa mente e nosso espírito”.  
Na visão do Ayurveda, medicina milenar indiana, as pessoas são classificadas em três doshas diferentes: kapha, pitta e vata. De acordo com o dosha,  reagimos de forma diferente ao mesmo problema que se apresenta. A dra.  Maria Stela de Simone, clínica-geral e especialista em medicina indiana,  diretora do Centro de Medicina Indiana, do Rio de Janeiro, diz que as  pessoas com o kapha predominante tendem a ser mais bem-humoradas e  satisfeitas. No entanto, em excesso, isso pode prejudicar a pessoa,  pois ela pode se tornar acomodada e deixar de buscar coisas novas para  sua vida. O vata é o extremo oposto, com tendência à constante  insatisfação e mau humor, como se estivesse de mal com a vida. O lado  produtivo do vata é a grande capacidade de se adaptar às mudanças. Já os indivíduos pitta  sentem prazer pela vida, são bem-humorados, mas reagem negativamente  quando as coisas não saem como planejaram. Seu mau humor pode se  expressar de forma raivosa.
Seja qual for o seu dosha  predominante, é importante cultivar um estado de leveza diante da vida.  Segundo a médica Maria Stela, as pesquisas comprovam que pacientes  bem-humorados se recuperam mais rápido, pois possuem o sistema  imunológico fortalecido. Ela explica ainda sobre aquela pressão no peito  que sentimos quando estamos tristes: “Existe uma glândula localizada  entre o esterno e o coração chamada timo. Quando estamos felizes e  bem-humorados, o timo é aumentado. Em contrapartida, quando estamos de  mau humor, essa glândula se contrai, fazendo uma compressão no peito”.  Daí aquela sensação ruim de “aperto no peito” quando a vida não anda às  mil maravilhas.
O  professor de Yoga Edinho Serafim, do Rio de Janeiro, é adepto do bom  humor em qualquer situação e diz: “Nas minhas aulas, o humor é tão  importante quanto asanas e pranayamas.  Despertar a alegria nos alunos ajuda a relaxar as tensões do dia a dia.  Encarar os desafios da vida com bom humor é fundamental para manter o  equilíbrio emocional. Quando levamos as coisas muito a sério sentimos o  peso das responsabilidades nos ombros e nas costas”.
O  fato é que mesmo em situações adversas, o bom humor parece ser  necessário para a aquisição de um estado de paz interior. Segundo a dra.  Maria Mazzarello Cotta Ribeiro, em um trabalho apresentado na  mesa-redonda da XXV Jornada do Fórum de Psicanálise do Círculo  Psicanalítico, é pelo humor que conseguimos escapar da realidade  incômoda, evitando o sofrimento sem ultrapassar os limites da saúde  mental. Pelo humor, segundo ela, nos afastamos da dor sem negá-la,  reconhecendo a nossa fragilidade humana.
A  dra. Maria diz: “É comum surgirem piadas de humor negro após grandes  catástrofes. Isso parece, a princípio, um desrespeito à dor, à perda, ao  sofrimento, mas é justamente o contrário. É uma forma de reverenciar a  morte e reconhecer nosso limite diante dela, mas, mesmo assim, podemos  driblar o sofrimento”.
Para  o professor Edinho, o bom humor aproxima as pessoas e cria um ambiente  aconchegante. Ele narra um episódio engraçado: “Um dia, durante a  vocalização do mantra Om na aula, uma aluna de primeira viagem não se  conteve e começou a rir. Sua risada contagiou toda a turma. O que  percebi foi que o Om teve o poder de alegrar e descontrair”. 
O  humor também tem uma estreita ligação com o intestino. Muitos o  consideram como nosso segundo cérebro. A terapeuta ayurvédica Janaína  explica: “O intestino é formado do mesmo tecido embrionário do Sistema  Nervoso Central, existindo uma conexão entérica entre os dois. A massa  neuronal dos intestinos é a segunda massa neural depois do SNC. O  intestino tem memória própria, por isso a importância de mantermos este  órgão com o vata sempre em equilíbrio. Com o ar interno dos intestinos em movimento, garantimos boa parte da nossa alegria pela vida”.
Problemas  intestinais como a constipação podem deixar a pessoa mal-humorada.  Dessa condição surge o adjetivo que conhecemos para designar o estado de  alguém assim: enfezado. Janaína esclarece: “Quando estamos com os  intestinos intoxicados e constipados, o ar interno não flui, alterando  os humores corporais. Quem tem esse mau humor crônico precisa iniciar um  tratamento ayurvédico com um dos panchakarmas, o Basti, que  trabalha a limpeza intestinal, pois é no intestino que se produz 95% da  serotonina, uma das principais enzimas responsáveis pelo nosso bom  humor”.
Devemos  lembrar que um constante mau humor pode estar ligado a um início de  depressão. Se você está sempre irritado, implicante com tudo e com  todos, é melhor consultar um médico e relatar seu caso. Vale lembrar que  o mau humor também causa outros problemas, de acordo com o dosha predominante de cada indivíduo. Segundo a dra. Maria Stela e a terapeuta Janaína, os pittas podem vir a ter ataques e até mesmo um AVC, enquanto os kaphas podem desenvolver câncer, por exemplo. Já os vatas tendem a buscar drogas para compensar o mau humor.
A  dra. Maria Stela lembra que, segundo Yogananda, “a felicidade é uma  questão de escolha”. Ela diz que nós podemos optar por ser felizes e  acrescenta: “O dia de hoje é o melhor que temos. A vida é muito  transitória”. Com esse pensamento sempre presente, fica mais fácil nos  ater ao bom humor. Para ajudar nesse processo, algumas pessoas estão  buscando alternativas, como o Yoga do Riso, que tem como um de seus  expoentes o professor de Yoga Maurício Salém. Ele é fã do alto-astral  como mecanismo de combate aos problemas diários e diz: “O  riso e a gargalhada são poderosos, pois desligam o mecanismo de alerta e  de luta e fuga do corpo, reduzindo o mecanismo de alerta/estresse. A  partir desse ponto, por meio da meditação, surge o momento de atenção em  si mesmo e no agora”.
A  dra. Maria Stela lembra que não podemos mudar o nosso exterior. Os  problemas externos vão sempre surgir, então cabe a nós mudar a forma  como lidamos com eles. Ela sugere que façamos uso de recursos que ativem  o bom humor, tais como meditação, práticas físicas energéticas (Hatha  Yoga, tai chi chuan), visualizações, aromaterapia, massoterapia  ayurvédica, entre outros. Maurício acrescenta que “o  riso e a gargalhada por períodos prolongados ajudam a nos desligar  temporariamente desses pensamentos para podermos nos enxergar em  plenitude”.
A  dra. Maria Stela insiste em que tenhamos pensamentos positivos, pois a  parte emocional deve ser prioridade em nossas vidas. Dessa forma, ela  diz, evitamos o desenvolvimento de doenças psicossomáticas, que podem ir  de gastrite a câncer.
Para evitar o mau humor, o professor Edinho dá algumas dicas:
- Ria de você mesmo.
- Ria para você em frente ao espelho.
- Exercite a gargalhada. O corpo vai agradecer. Todos os sistemas e aparelhos corporais são ativados com uma boa gargalhada.
- Não pense no pior. Pense que poderia ter sido pior.
- Olhe para si e perceba quão pequenos nós somos diante de toda a grandeza do Universo.
 Por  fim, Janaína nos lembra que “Somos bem-humorados por natureza. Vejam  pelas crianças que naturalmente são alegres e felizes. Esta é a memória  de que precisamos para retornar ao nosso estado sátvico  de vida”. Então, nada de ficar como a hiena Hardy, reclamando do  destino. Lembre-se de que ser feliz é uma questão de opção. Não perca  tempo e cultive a felicidade e o bom humor a partir de agora.



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